Roberto Martínez fez o que prometeu. Contra a Suécia, o selecionador nacional testou ideias que deseja consolidar, no caso de, depois de serem avaliadas, o técnico espanhol as considerar positivas. Ou então, na pior das hipóteses, por serem más ou inadequadas, descartar o papel onde as desenhou antes da viagem para a Alemanha, onde Portugal vai disputar o Europeu.
Certo é que, apesar de ainda ser “um pouco difícil desenhar completamente esta seleção” devido à “dúvida em relação a jogadores que não têm muita presença”, é possível perceber “que há coisas já cimentadas no pensamento de Roberto Martínez”. A opinião de Tomás da Cunha, analista e comentador da Tribuna Expresso, é lançada antes de Portugal viajar até Liubliana para defrontar a Eslovénia no segundo jogo de preparação para o Europeu.
Na bagagem, a seleção leva o jogo diante dos suecos que Roberto Martínez avaliou como “um bom teste” em que “os conceitos defensivos foram muito bem executados”. Porém, tal como assumiu o espanhol, há outras dinâmicas a pôr à prova – “há conceitos a melhorar.” Nem podia ser de outra forma. Os processos coletivos numa equipa necessariamente com pouco tempo de trabalho são a preocupação de qualquer selecionador. Depois, há as intermitências ditadas por este estágio, para o qual o treinador convocou 32 jogadores: após o encontro disputado em Guimarães, oito jogadores abandonaram os trabalhos da seleção, dando lugar a outros tantos.
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Cristiano Ronaldo é um dos reforços para o segundo encontro, o que levanta o velho debate sobre o quão benéfica é a presença do capitão no grupo e, principalmente, como é que ela afeta a forma de jogar da equipa. “Não podemos esquecer o passado”, comenta Tomás da Cunha. “Claro que Gonçalo Ramos é um avançado mais trabalhador, mais disponível, quer em apoio, quer para recuperar ou pressionar. Contra equipas que trabalham bem a construção, pode ser importante ter esse elemento para condicionar os centrais contrários. Com Ronaldo, isso não vai acontecer”.
Apesar da Suécia ter um maior número de jogadores espalhados pelas grandes ligas europeias, a Eslovénia, ao contrário dos nórdicos, vai estar presente no Europeu (grupo C, com Inglaterra, Sérvia e Dinamarca). Trata-se de uma seleção que vale pelas suas pontas: Oblak é o guarda-redes e Benjamin Šeško, jogador do RB Leipzig, é o avançado.
Só o facto de ser um jogo fora “pode criar outro tipo de cenário a Portugal, mas não se esperam grandes diferenças em termos de abordagem”, logo o expectável é que “grande parte do que vimos em Guimarães seja para manter”, continua Tomás da Cunha. Nesse encontro, para que tudo fluísse de forma harmoniosa, foi preciso que alguém abdicasse de algum brilhantismo para o coletivo sobressair. Parece uma frase retirada de uma flash-interview, mas Nuno Mendes conseguiu passar das palavras aos atos.
Na proposta de jogo que Martínez apresentou frente aos nórdicos, o lateral do Paris Saint-Germain ocupou o espaço interior na primeira fase de construção, formando uma linha de três com Pepe e Rúben Dias. Faz parte da assimetria da organização ofensiva de Portugal que manteve o lateral-esquerdo mais recuado e o extremo aberto, sendo que, do lado oposto, se verificou o contrário, cabendo a Nélson Semedo dar profundidade face às incursões interiores de Bernardo Silva.
Não é alheia a esta perspetiva de retração do flanqueador do lado canhoto que, na segunda parte, tenha sido Toti Gomes, com características mais próximas de um central puro, a ocupar a posição outrora de Nuno Mendes. A entrada do jogador do Wolverhampton e de Bruma coincidiu com os dois golos sofridos por Portugal diante da Suécia. Frente à Eslovénia, certamente que Roberto Martínez vai querer manter a baliza a zero.
Para isso, pode ajudar que o jogador a desempenhar o papel de médio mais recuado baixe para a zona entre os centrais quando a equipa se organiza defensivamente. “Creio que isso será quase indispensável pela forma como Portugal pensa o jogo” até porque “há permissão para que Rafael Leão fique um pouco mais livre de tarefas defensivas”. Tomás da Cunha identifica que o “conforto em termos de largura” possa evitar problemas como os que se verificaram contra a Suécia. A ausência de Palhinha entre os defesas obrigou Toti Gomes a libertar espaço nas costas onde, por exemplo, Emil Holm apareceu a fazer a assistência para Gyökeres.
Quanto a possíveis novidades frente à Eslovénia, o analista da Tribuna Expresso identifica que o papel de Vitinha é uma “incógnita” e que Rúben Neves tem que dar provas ao selecionador, porque, neste momento, “não é um nome que possamos dar como garantido na convocatória” para o Europeu. Depois de Jota Silva ter somado a primeira internacionalização contra a Suécia, é de esperar que o mesmo possa acontecer com Francisco Conceição, um nome que pode “aparecer no papel de Bernardo Silva, ou seja, como um extremo que aparece por dentro para ser mais um criador, dando espaço ao lateral para chegar em profundidade”.
Portugal tentou de maneira persistente sair a jogar a partir do pontapé de baliza contra a Suécia, mas nem sempre o conseguiu fazer de forma limpa. Algo também a aprimorar no futuro.