A história recente do Sporting não deveria permitir assomos de excesso de confiança. Isso estará reservado às equipas habituadas a ganhar frequentemente, que sabem, lá no fundo, que os títulos chegarão mais cedo ou mais tarde, para quem uma seca de taças e campeonatos é um glitch no sistema e não o sistema.
E, esta semana, o Sporting teve um assomo de excesso de confiança quando a ele ainda não tem direito.
Excesso de confiança do Sporting, clube, quando deixou Rúben Amorim fazer uma viagem a Londres, excesso de confiança de Amorim por não ver a viagem como um equívoco, excesso de confiança quando acreditou, na conferência de imprensa onde assumiu os erros, que não havia mais erros para entregar.
Mas houve. Houve quando disse estar “perdido” e quando tudo isto, se calhar mais conceptual do que pragmaticamente, como um choque em cadeia na auto-estrada, explodiu na cara de um Sporting que entrou no Dragão mal preparado, se calhar mais dependente de Gyökeres do que se possa imaginar, ainda que não só a ausência do sueco, com queixas físicas, explique o trambolhão leonino frente ao FC Porto, que apenas o panzer nórdico conseguiu, já nos últimos minutos, tornar num empate anticlimático. A insistência em Diomande, que é outro jogador desde a CAN, a colocação de Gonçalo Inácio na ala esquerda e as limitações do plantel na baliza (Israel mais uma vez a comprometer) definiram o jogo na 1.ª parte, em que os dragões, com um presidente na tribuna e outro na bancada, marcaram dois golos.
E perdido continuou Rúben Amorim no início da 2.ª parte. Ao intervalo, tirou Bragança, um dos melhores da 1.ª parte do Sporting, para colocar Gyokeres ao lado de Paulinho, baixando Pote para o meio-campo. A invenção durou 15 minutos: só a partir dos 60’, com a entrada de Morita e Nuno Santos, o Sporting voltou a uma estrutura mais familiar, coincidindo, daí para a frente, com o melhor momento dos leões. Gyokeres marcaria aos 87’ e 88’, jogadas seguidas, já com Edwards em campo, entrado talvez demasiado tardiamente quando há muito se pedia fantasia.
Até Rúben Amorim deixar de estar perdido, o Sporting tropeçava num jogo pejado de erros defensivos. Ainda nem havia 10 minutos e Israel, acossado com a pressão alta do FC Porto, entregou mal a bola, recuperada diligentemente por Chico Conceição. Pepê faria uma maldade em forma de túnel a Coates, isolando Evanilson, que não falhou.
Face às linhas coesas do FC Porto, o Sporting teve sempre muitas dificuldades em entrar na defesa na 1.ª parte. O jogo era lento, o que penalizava o Sporting. Com o golo, o FC Porto baixou, cheirando os ataques rápidos. Do outro lado, os desequilíbrios eram raros. Trincão surgiu apenas intermitentemente neste particular e sem Gyökeres os leões não conseguiam esticar o jogo, criar o caos na defesa adversária – houve vislumbres do Sporting de há um ano.
Ainda antes do intervalo, o FC Porto marcou novamente, com uma cavalgada de Martim Fernandes, novidade no onze de Sérgio Conceição que já deveria ter sido novidade há tão mais tempo, a destruir as linhas do Sporting, a deixar Hjulmand ourado, e depois excelente a ver a entrada de Pepê de rompante pela área. Minutos depois, Bragança escorregou num lance que parecia controlado e Francisco Conceição, isolado, permitiria a defesa a Israel e a manutenção de alguma honra a um leão desastrado.
O reencontrar de Amorim na 2.ª parte equilibrou o jogo, com o Sporting a ter muito mais bola que um FC Porto que terá confiado em demasia na coesão defensiva que, verdade seja dita, só falhou nos dois lances de golo de Gyökeres, que nem sequer tinha entrado particularmente bem. No primeiro golo do Sporting, o sueco surgiu cheio de espaço entre os centrais para cabecear, recurso que está longe de ser a sua melhor arma. E segundos depois, um passe errado de Nico a meio-campo precipitou o combo drible-passe de Edwards, com o cruzamento a encontrar sueco, que tinha já sido instrumental na jogada, a servir como distribuidor de costas para a baliza. A reação leonina ficou-se por aí, porque o inglês seria tontamente expulso momentos depois, num desaguisado desnecessário com Galeno.
Salvou-se assim o Sporting de um desastre completo numa semana que foi desastrosa em vários sentidos. A vantagem para o Benfica é agora apenas de cinco pontos e a via para o título continua aberta. Mas não fará mal nenhum ouvir a voz da humildade, a história não tem grandes contemplações com quem se sente perdido, logo agora que tão pouco falta.